Ela era só mais uma garota, mas isso não existe, não é? Ninguém é apenas mais uma garota. O sorriso é o disfarce que o mundo exige, mas por trás dele sempre há uma história de vida. E por trás do brilho nos olhos, conquistas e desastres. Ela era apenas uma garota que, com tombos e desmoronamentos pessoais, aprendeu a ser mulher. Sua história é como um passeio de montanha-russa que termina com alguém alçando a garota para uma viagem de balão que não para de subir até atingir as nuvens. Nem por isso é fácil. Tem todas as subidas e descidas, tem ventania, tem rasgo no balão. Mas, eventualmente, as nuvens aparecem.
É
importante ressaltar que a garota não comprou ingresso para a montanha-russa.
Não pediu para estar lá. Foi jogada em uma jornada absurda e assustadora por um
pai que gostava mais da filha da madrasta, que não era sua, do que da sua
própria menina. Um pai que não se orgulhava de sua trajetória e que conseguiu o
que poucos pais conseguem: que o melhor para ela fosse ficar longe dele. Foi
jogada lá por namorados que foram apoio em determinados momentos, mas também tristeza
em inúmeros outros.
A
vida não tem lógica mesmo e nunca pretendeu ter. A mãe da garota, seu ponto de
segurança, faleceu depois de uma doença grave. O pai não fazia por merecer a
filha que tinha. Um namorado desmontou seu coração como se fosse peça
eletrônica que permite conserto posterior. Não permite. A superação ajuda, mas
ficam emendas. Tempos depois, outro cara tostou outra metade do amor que ela
tinha no peito. Sufocou, magoou, solidificou um mal estar que ela, garota linda
e cheia de vida que era, não precisava sentir.
Se
esta fosse uma crônica normal, acabaria mais ou menos com um parágrafo triste
como este. Mas não. Esta não é a crônica de apenas mais uma garota, mas sim de
uma que soube crescer com as dificuldades, abraçar sua dor e aprender com ela,
afastar aquilo que machucava e virar o jogo. Esta é a crônica de uma garota que
honra cada letra da palavra resiliência. Não é fácil deixar para trás as
pessoas que amamos, mas é incrivelmente mais saudável perceber que aquelas que
nos amam têm muito mais valor. Que o que importa é ter ao seu lado quem se
orgulha de você e te ajuda a crescer, sem jamais te sugar ou puxar para baixo. O
fundo do mar é lindo, mas ficar por lá é morte certa. A mãe dessa garota lhe
mostrou como seguir em frente. Como batalhar e persistir. A mãe dessa garota
lhe botava no colo, com a visão perdida para sempre, mas com a felicidade e a
doçura resistindo com bravura. A mãe dessa garota lhe ensinou a ser tudo que
ela é hoje.
Há
algo muito interessante e estranho sobre decepções: elas são mesmo horríveis e
possuem um amargor único. Causam ânsias, vertigens, vontade de vomitar o resto
de vida que deixam. Mas, por outro lado, cada uma te faz sentir menos efeitos
colaterais na próxima. Não é questão de se acostumar, mas de fortalecer seu
coração e aquilo que lhe faz bem. Quando o primeiro namoro terminou, ela
lembrou que, se conseguiu superar a morte da mãe, superá-lo seria a brincadeira
de criança que seu pai não lhe ensinou. Quando o segundo namoro terminou, ela
já estava mais forte. A vida faz essas coisas: entorta-nos até o limite, até o
ponto de quebra, testando até onde vai nossa garra e capacidade de voltar. Ela
reatou com o namorado, acreditando que tudo seria diferente. Quem nunca fez
isso? Notícia urgente: dificilmente algo será diferente. Sua cura não vem do
que te partiu em trilhões de pedaços, mas de você. Ela só precisou dessa
segunda chance e alguns meses para entender isso. Para realmente assimilar que
o que a salvaria seria seu amor próprio.
Não
adianta permanecer como está se dói. Não adianta voltar para aquilo que só
soube te dividir e estraçalhar. É preciso somar e saber enxergar o resultado
positivo. É preciso procurar sua paz, onde quer que ela esteja. É preciso
leveza, amor e um toque de felicidade. Não solidão, mas as pessoas certas. É
preciso aceitar que muitas famílias não são feitas de pai e mãe, mas de amigos
incríveis e uma tia ou outra que te acolhe como se mãe fosse.
Você
pode pensar que, depois de tanto sofrimento, o coração dessa garota ficou em
frangalhos. Mas eu te digo que não. Seu coração foi reconstruído com cuidado
por todos aqueles que a amam e, principalmente, pelo amor que ela mesma soube
se dar. Porque, sim, depois de tanto tempo, ela teve que reaprender o amor, a
confiança, a autoaceitação. Você pode não acreditar em mim, mas eu te digo que
hoje ela se sente completa com o que tem; pessoas, trabalho, vida, energias
positivas e, acima de tudo, consigo. Não há ninguém, afinal, que possa lhe dar
mais do que ela mesma. Hoje o sorriso dessa garota não é cenográfico. É mais
real do que eu e você. E continua lindo. Porque ela não é só mais uma garota. Ela
é a garota que teve garra para saltar da montanha-russa em direção ao balão. Ela
é a garota que sobreviveu à tempestade e saiu dela encharcada, mas sabendo
sorrir e com força e coragem para correr atrás dos seus sonhos... Do jeitinho
que sua mãe lhe ensinou desde pequena.